sexta-feira, 30 de março de 2012

Sobre Compay Segundo

    Certa vez na Pérola Negra, loja de CDs que trabalhei, um cliente me perguntou se eu tinha um compact disc de um cubano chamado Compay Segundo. Eu era novo na loja e, até então, não tinha um conhecimento muito elaborado sobre música cubana (nem sobre muitos artigos da loja!), a não ser pelo projeto Buena Vista Social Club, documentário que assisti e adorei (indico!) e por algumas outras exceções. Tentei, com todo esforço lembrar se tinha na loja. Fui até a parte que estavam os CDs internacionais e quando eu vi a capa de “Calle Salud” pensei: “Caramba, ele participou do Buena Vista!”.
   

 Confesso que me senti meio ridículo, pois, mesmo assistindo o filme várias vezes, não conseguia lembrar de um dos principais nomes da música cubana.. Mas, claro, na hora eu improvisei fatos da carreira do senhor que, na verdade, eu não conhecia nada sobre, pra não ficar feio para o meu lado!
   


 Depois desse fato, além de pesquisar mais sobre música, passei a escutar muito da música cubana e Compay passou a ser um dos meus favoritos, pois conhecendo o trabalho dele percebi seu suingue, seu bom humor e sua criatividade.


  Máximo Francisco Repilado Muñoz nasceu em Siboney e tinha, como brinquedos, os caranguejos que pegava nas praias de Santiago de Cuba, cidade que passou boa parte da sua juventude. Nasceu na mesma data que eu, só que ALGUNS anos antes, em 18 de Novembro de 1907. Quando pequeno teve seu primeiro contato significativo com a música, foi em 1914, quando viu um cantor antigo, chamado Sindo Garay, com um violão na mão.    
          Compay Segundo começou a aprender, sozinho, violão e clarinete. Se aprofundou na teoria musical, com a ajuda de sua vizinha, mas sua verdadeira escola foi a noite, na prática. Ele criou seu próprio instrumento, o Armónico, um instrumento de corda, um pouco menor que o violão tradicional, com as características que lhe agradavam mais.

      
No seu primeiro grupo, Sexteto Los Sies Ases, Compay tocou clarinete e, ainda jovem, tocou na Banda Municipal de Santiago de Cuba. Depois de tocar em muitos conjuntos, em paralelo ao Grupo do famoso Miguel Matamoros, Repilado fez parte do Quarteto Hatuey, já como violonista, onde tocou com Lorenzo Hierrezuelo.
   



  Com o grupo Los Compadres, Máximo Repilado passa a ser anunciado nas rádios com Compay Segundo (Segundo Compadre), pois era uma espécie de segunda voz da dupla que Lorenzo Hierrezuelo, o Compay Primo.
   

   
    O Buena Vista Social Club reuniu, entre outros, nomes como Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo, Rubén Gonzales, o trompetista Guajiro e Compay Segundo. Com o título inspirado num bar que os músicos e outros artistas frequentavam, esse projeto começou com um CD gravado por Marcos Gonzáles, pelo guitarrista Ry Cooder e alguns
músicos da “velha guarda”, por volta de quarenta anos depois do fechamento do bar. Esse grupo saiu em turnê pelo mundo, um verdadeiro sucesso e, passando pela Holanda, o alemão Wim Wenders começou a gravar os shows. Gravou a apresentação na Holanda e em Nova York. Ele montou, então, esse documentário, incluindo entrevistas e essas apresentações.
     Compay Segundo e Ibrahim Ferrer me chamaram mais atenção. Bem humorados, com aquela malandragem antiga e com a música transbordando pela boca!

     Repilado estava sempre com seu charuto e sempre com uma música na ponta da língua pra cantar. Esse projeto, sem dúvida, reacendeu a música cubana e fez com que a obra dessa verdadeira caricatura do cubano da década de 40 voltasse a ser conhecida e admirada!

    Com “el armónico” no colo e o charuto na mão, Máximo Francisco Repilado Muñoz, o Compay Segundo, enfrentou o mundo e mudou sua vida.
    Compay, que aos 94 anos começou a atuar, faleceu em 2003, deixando cinco filhos. Deixou, também, um material muito bonito e autêntico, cheio de ritmo e de verdade. A música cubana foi bem representada por ele que, ao lado de Miguel Matamoros, teve um papel fundamental para a cultura do seu país.

Indico (CDs):

- Ibrahim Ferrer – “Mi Sueño” e “Buenos Hermanos”
- Patato – “The Legendo of Cuba Percussion”
- Omara Portuondo – “Omara e Chuco”, “Gracias” e “Maria Bethania e Omara Portuondo”
- Manuel “Guajiro” Mirabal – “Buena Vista Social Club Apresenta Guajiro”
- Chucho Valdés – “Juntos para Siempre” (com Bebo Valdés)

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